Não foi fácil a vinda para Hong Kong. A adaptação à uma nova cultura, a um novo estilo de vida e um jeito de se relacionar MUITO diferente de nós, brasileiros. Por um lado, foi ótimo ficar com os meninos e ter uma dedicação 100% à família – alguns desejos consegui realizar: acompanhar de perto as lições de casa, brincar à tarde depois da escola, fazer bolo juntos, entre muitos outros! Mas o mais difícil mesmo foi ter perdido a minha independência financeira e a minha carreira - trabalhando desde os 18 anos, me acostumei a ter o meu próprio dinheiro e senti que havia perdido a minha liberdade.
Durante os primeiros 8 meses estava focada na família – adaptação das crianças na nova escola, dar suporte para o Daniel poder ter tranquilidade no trabalho e estabelecer uma rotina para mim para fazer a casa funcionar. Aprendi a cozinhar e a lavar roupa (me envergonho de não ter aprendido isso antes!). Foi um período também de luto – de desapegar das coisas que havia construído no Brasil e começar do zero.
Comecei aos poucos ler e entender como Hong Kong funciona. País desenvolvido com maior desigualdade social!
Ninguém que eu conhecia em Hong Kong havia ouvido falar de Capitalismo Consciente, Mohammad Yunus ou o que era Sistema B. A sensação é que estava num país 10 anos atrás do que era o Brasil no campo de negócios de impacto.
Montei meu CV e fui atrás de trabalho. Apliquei para mais de 30 vagas e nada. Entrevista mesmo só consegui quando alguém me indicava para a pessoa responsável pela vaga. Muito qualificada, não fala cantonês/ mandarim e/ou falta de experiência na Ásia: essas eram as principais razões de não prosseguir nos processos seletivos. Recebi tantos NÃOs que juro que passei a não me importar mais com eles.
Todas essas dificuldades foram aliviadas com inúmeras conversas, choros e risadas. Tive a sorte de conhecer, logo no meu primeiro mês em Hong Kong, duas mulheres incríveis que reforçavam sempre qual era o meu valor e o que eu tinha de especial. Me ajudam a entender as minhas escolhas, a minha história, minhas forças e fraquezas. A descobrir meus potenciais e a não me limitar pelo que o momento atual oferecia. Descobrir junto com elas o poder da yoga, da meditação e, mais uma vez, a força de uma mulher ajudando a outra. Referências fortes para mim de mulheres que conseguem equilibrar seus diversos papéis e são apaixonadas por suas carreiras. Muito mais do que isso - são as minhas 2 irmãs da minha família aqui na Ásia. Presentes que a vida me deu!