Sobre VIVER e não SOBREVIVER

Nestes últimos 10 anos, vivi uma grande revolução interna: decidi deixar a minha posição como sócia de uma grande empresa de consultoria internacional para me jogar no mundo do empreendedorismo social. Não é só uma mudança de cargo ou endereço. Essa coragem de dizer SIM para meu PROPOSITO DE VIDA me levou a revisar muitos conceitos, abandonar o controle para CONFIAR NO PROCESSO. ABRIR espaço para conhecer mais sobre mim.

Uma forma muito diferente de VIVER. Um outro olhar. Tudo muito rico e profundo.

Já havia recebido sugestões de amigos próximos para compartilhar esses aprendizados, mas por alguma razão, não fiz. Mas hoje aconteceu algo que me acendeu essa vontade – não quero correr o risco de esquecer de momentos importantes e significativos que me ajudam a construir cada tijolinho de quem EU SOU e que ACREDITO que possa ajudar outras pessoas na sua trajetória por uma vida com significado.  Então, inauguro hoje o meu primeiro texto do "Pausa com Café".

8 de maio de 2023 (escrevendo no Agnes B, coffee shop em Central, HK)

Hoje amanheceu chovendo aqui em Hong Kong e fui ao banco abrir a conta da minha empresa de consultoria. Registrei a empresa há dois anos, mas a impossibilidade de receber os meus honorários de um cliente internacional (já que, pelo compliance, não poderiam fazer o pagamento em nome da pessoa física se haviam contratado uma pessoa jurídica), me impulsionou a dar esse novo passo.

Com documentos em mãos, cheguei na agência e a primeira pergunta da recepcionista foi qual era o nome da empresa. Respondi: weup.  Para confirmar se o seu entendimento estava correto, ela pediu para que eu soletrasse: WE UP. Imediatamente, me lembrei do porquê que eu havia escolhido aquele nome - JUNTOS PARA EVOLUIRMOS.

Aguardei alguns minutos, e logo a Gabi me chamou para começarmos a nossa conversa... Imaginem a Gabi como uma jovem, na casa dos seus 24 anos, que nasceu e morou em Hong Kong. Após entregar os documentos, a Gabi me perguntou:

Que tipo de consultoria você faz? Quem te contrata? O que você entrega?

Perguntas simples de responder, não? Comecei a responder de uma forma abrangente, sem ser específica (no fundo, estava tímida – provavelmente seria a primeira empreendedora social que a Gabi via pela frente).

Mas a Gabi não desistiu de mim. E continuou: Você comentou que realizou um workshop de Team Building para Havaianas aqui na Asia. Sobre o que você falou?

Pronto, agora não dava para escapar. Abri a apresentação que havia feito e expliquei para a Gabi o conceito de vivermos o nosso IKIGAI, a integração do que somos, com nossos talentos, como podemos ajudar o mundo a ser um lugar melhor e, ao mesmo tempo, sermos pagos por isso. Enxergar o trabalho como um MANIFESTO do que SOMOS.

A Gabi me olhava fixamente e me senti encorajada a ir mais adiante e ilustrei: “Por exemplo Gabi, vamos imaginar que a sua causa é empoderamento feminino e que por meio do seu trabalho aqui no banco você se sente profundamente realizada em ajudar empreendedoras, como eu, a fazer com os seus negócios prosperem ao abrirem a sua conta”. Gabi abriu um pequeno sorriso. Fiquei com a impressão de que ela estava entendendo exatamente o que eu estava falando.

Gabi, em seguida, faz a sua “due diligence” – me pede provas de que a minha consultoria existe: e-mails com meus clientes, copias de notas fiscais e comprovantes de pagamento. Tenho tudo. Me sinto forte. Vejo o quanto eu caminhei nestes 6 anos que estou em Hong Kong.

Gabi me perguntou quanto eu estava planejando faturar nesses próximos 12 meses. Frio na barriga. O que responder? Fiquei com medo de estimar um valor maior do que eu seria capaz de entregar. Então, respondi um número que eu me sentia confortável. Um valor que não garante a minha independência financeira. Esperava que ela perguntasse se eu tinha outra fonte de renda. E estava pronta para respirar aliviada e trazer o Daniel, meu marido, para a conversa.  Para minha surpresa, a pergunta não veio.

Seguimos então. Gabi me pergunta sobre a minha trajetória profissional. Queria datas dos meus últimos empregos, tanto no Brasil quanto aqui em Hong Kong. E eu intrigada pensei – mas por que aquilo tudo era relevante para abrir a conta? Não era só trazer os documentos, ter dinheiro para o deposito mínimo e pronto?  

Como minha cabeça não guarda tão bem datas, pedi licença para abrir o LinkedIn e percorrermos juntas o meu currículo. Fomos para meu último emprego no Brasil - sócia de Fusões e Aquisições em uma consultoria internacional. Depois a Gabi me pergunta sobre minha experiencia de 2 anos trabalhando como diretora em uma ONG em Hong Kong e em seguida questiona: Qual era meu salário? Respondi sem titubear. E aquilo me fez refletir a minha resposta sobre o faturamento que eu almejava alcançar esse ano.

Gabi olhava para a tela do meu computador e me perguntou sobre o Somos Todas Marias. Respondi que era um negócio de impacto que havia criado no Brasil com mais 3 mulheres. Ela fica curiosa e pergunta qual era o nosso modelo de negócio. Explico e me lembro das Marias. Trago para aquela pequena sala em Hong Kong o Brasil, suas desigualdades e o poder das mulheres e da beleza para impulsionar mudanças.

Nesta pequena viagem pelo meu currículo me aproprio das minhas conquistas. Me potencializo e me reconecto com a minha intenção. Volto para a Gabi e digo com firmeza – Gabi, no meu plano de negócio desse ano eu estimo faturar “X” por mês. Vou começar agora o planejamento de comunicação, redes sociais.  Gabi volta para a tela do computador e altera o valor que eu havia falado antes. Olho para dentro e me abraço.

Gabi me pede para fazer o download do app do banco, criar senhas. Me promete que em 4 semanas devo receber a resposta da aprovação ou não da conta. E por fim, me pergunta: Você já encontrou o seu IKIGAI? Com um sorriso, eu respondi: IKIGAI não é o destino, e sim o caminho.

O que seria uma simples ida ao banco para abrir uma conta me fez rever minha trajetória, me ver vulnerável e achar mecanismos para me fortalecer. E nesta viagem interna, tive a oportunidade de trazer algo novo para a jovem Gabi. Um dia sobre VIVER e não sobreviver.

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"Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu. É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu"