Cheguei na reunião. Era numa casa localizada no Paraíso (não poderia ser em outro bairro!). Não tinha ainda começado e fui conversando com Jesus para ele me mostrar um sinal de qual seria meu próximo passo. Estava tomando um cafezinho no canto da sala principal da casa quando a Luiza me perguntou: “E aí? Já pediu demissão?” Eu, surpresa, falei: “Como assim? O que aconteceu de duas semanas para cá que eu perdi?” Luiza: “Você me ligou pela manhã e à tarde a Sonia Hess sugeriu que essa casa fosse a sede do Grupo Mulheres do Brasil. Eu preciso agora da dona da casa! Você será a Diretora Executiva do Grupo”. Naquela hora, bateu a insegurança – não estava em busca de cargo, estava atrás de uma experiência de vida, uma oportunidade para viver propósito, me conectar com a minha essência. Sem que eu falasse uma palavra, a Luiza complementou: “Não se preocupe. Vamos aprender a trabalhar uma com a outra!”.
Convivência com mulheres de diversas classes sociais, cores e formas. Desconstrução no modo de trabalhar – não tinha um modelo pré-formatado, um procedimento a ser seguido. Estava tudo emergindo. Trabalhar com voluntárias exigia ter uma conexão genuína, entender o que movia cada uma. A troca tinha que valer a pena! E aprendi o mais importante: o erro faz parte do aprendizado. Não era para evitar o erro, muito pelo contrário, ele estava lá para mostrar o caminho de como melhorar (para alguém que trabalhou quase duas décadas em empresas que eram pagas para não errar, essa era uma tremenda desconstrução!).
Experiência de empreendedorismo na veia, com inspiração diária de mulheres fortes, buscando construir algo significativo, aprendendo a trabalhar num novo modelo, caótico, que ia tomando forma, sem pressa, mas firme e autêntico. Me coloquei em vários papéis onde nunca havia atuado: no palco, com microfone na mão, responsável pela coordenação da casa (incluindo arrumação e faxina), organização dos eventos, parcerias, visitas na periferia e viagens de jato particular. Visitei o sertão e conheci a realidade da seca e suas consequências. Conheci um presídio humanizado. Muitas experiências que ampliaram a minha visão do mundo e sobre o SER HUMANO.
Estava começando a me questionar sobre modelo ONG sob do ponto-de-vista de sustentabilidade, quando o Daniel, em maio de 2017, comenta que estava com muita vontade de viver uma experiência internacional e surgiu uma oportunidade. Senti naquele momento que havia chegado a hora dele realizar o seu sonho.